Conheça o TRALHOTO! Um dos peixes mais "engraçados" que existem.

Tralhoto é uma daquelas espécies que, uma vez que você vê, não esquece nunca mais!
É uma espécie muito comum e abundante nas praias do estuário do Amazonas e nos rios costeiros do Amapá, Pará, Maranhão e Piauí.

Eles possuem uma adaptação fantástica: cada olho é dividido em duas partes, uma superior e outra inferior, dando a impressão que possuem 4 olhos (mas na verdade são só 2)
A parte superior do olho é adaptada a enxergar no ar atmosférico enquanto a parte inferior é adaptada a enxergar dentro d’água. Essa adaptação permite que o tralhote enxergue AO MESMO TEMPO tanto dentro quanto fora d’água. Pra quem tem a sorte de ver esses peixes na natureza e já tentou pegá-los, sabe bem do que estou falando. É quase impossível!

Outras coisa de se notar no tralhoto, principalmente pra quem gosta de aquários, é que eles lembram um pouco um Guppy gigante. Não é a toa: eles são parentes meio que distantes dos guppies, pois pertencem à mesma ordem (Cyprinodontiformes) mas tem sua própria família: ANABLEPIDAE.
Existem duas espécies no Brasil: Anableps microlepis e Anableps anableps (que é essa do vídeo).
Eles suportam uma grande variação de salinidade (o que é chamado de espécie eurialina) e podem viver em água salobra ou água doce pura.
Existe dimorfismo sexual no tralhoto: o macho possui gonopódio (nadadeira anal modificada em órgão copulador), a fecundação é interna e a espécie é vivípara, com tempo de gestação de 3 meses
A fecundidade é baixa, em torno de 10 filhotes por prole.

Uma outra curiosidade legal (mais uma!!!) é que o macho tem o gonopódio voltado para a direita ou para a esquerda e a fêmea tem a abertura genital virada para a esquerda ou para a direita. Assim, apenas os machos e fêmeas que tenham as genitálias compatíveis (esquerda com direita ou direita com esquerda) é que conseguem copular. O motivo disso existir? Ainda é um mistério para a ciência!

A evolução é linda, não é mesmo???


Vídeo do tralhoto na natureza:
https://www.youtube.com/channel/UCph_SCEoSHIIoVZhU1Bp9Iw


Artigos científicos citados:
Perez LN, Lorena J, Costa CM, Araujo MS, Frota-Lima GN, Matos- Rodrigues GE, Martins RAP, Mattox GMT, Schneider PN. 2017 Eye development in the four-eyed fish Anableps anableps: cranial and retinal adaptations to simultaneous aerial and aquatic vision. Proc. R. Soc. B 284: 20170157. http://dx.doi.org/10.1098/rspb.2017.0157

Amorim PF, Costa WJEM (2018) Multigene phylogeny supports diversification of four-eyed fishes and one-sided livebearers (Cyprinodontiformes: Anablepidae) related to major South American geological events. PLoS ONE 13 (6): e0199201. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0199201

00:00 Introdução
00:31 O olho do tralhoto
02:19 Um mega Guppy!
02:49 Família Anablepidae
02:58 Fecundação interna
03:26 Distribuição geográfica
03:53 Salinidade
04:05 Amor ambidestro
04:42 Manutenção em aquário